Husserl rompe com a separação cartesiana entre mente e corpo, entre sujeito e objeto. Para ele, consciência e mundo não são realidades distintas, mas dimensões interdependentes de uma mesma experiência. Assim, rejeita tanto o empirismo — que reduz o conhecer à observação sensorial — quanto o racionalismo — que o submete à razão abstrata.

O positivismo, dominante em sua época, via a realidade como algo que só poderia ser compreendido por meio do método experimental, com o intuito de prever e controlar fenômenos. Essa visão separava sujeito e objeto, e acabou moldando uma psicologia voltada à mensuração e ao controle do comportamento, esquecendo-se da vivência singular.

A Fenomenologia propõe o oposto: compreender não é explicar por causas, mas captar os significados vividos. Husserl abandona a busca por leis universais e volta-se à descrição fiel da experiência — àquilo que se mostra, como se mostra. Essa atitude requer dois movimentos: a epoché, que é a suspensão de pré-conceitos e interpretações naturalizadas, e a redução fenomenológica, que nos convida a encontrar a coisa em sua própria aparição, abrindo espaço para novos sentidos emergirem.

Na psicoterapia fenomenológico-existencial, essa postura se traduz em uma escuta que não busca causas nem categorias diagnósticas universais. O terapeuta compreende a experiência como fenômeno situado — um acontecer entre sujeito e mundo. Seu papel é sustentar um campo de awareness, onde o cliente possa reconhecer-se, responsabilizar-se e exercer sua liberdade concreta. Não se trata de adaptar o indivíduo ao meio, mas de ampliar sua capacidade de discernir e escolher frente às condições em que vive.

Assim, a Fenomenologia não busca princípios universais nem uma objetividade independente da experiência. Seu propósito é suspender juízos e retornar às “coisas mesmas”, investigando como os fenômenos se manifestam à consciência para revelar suas essências — e, a partir daí, alcançar um saber compartilhado, vivo e intersubjetivo.

Para a Psicologia da Gestalt, perceber não é simplesmente somar estímulos ou refletir passivamente o mundo exterior. A percepção é um processo ativo e relacional, no qual o sujeito e o campo se coorganizam mutuamente. Cada figura emerge de um fundo e adquire sentido a partir da história e da vivência de quem percebe. A atenção, portanto, não é fixa: ela se reorganiza dinamicamente, destacando certos elementos conforme o contexto e as necessidades do momento.

Na Teoria de Campo, o comportamento humano não é explicado por traços fixos de personalidade nem por condicionamentos passados. Ele surge do campo presente, como expressão viva da interação entre pessoa e ambiente. A tarefa do terapeuta não é corrigir padrões disfuncionais, mas sustentar uma presença atenta e um campo de awareness, favorecendo que as forças do campo se reorganizem criativamente e permitam novos modos de contato e ajustamento.

Um terapeuta holístico não foca partes isoladas do fenômeno, mas considera o todo em seu movimento. O sintoma é visto como uma figura significativa dentro do campo organismo–ambiente, e não como algo a ser eliminado. A escuta clínica integra dados qualitativos e quantitativos, visando facilitar a reorganização do sistema e promover ajustamentos criativos que restabeleçam o fluxo vital.

Na Teoria Organísmica de Kurt Goldstein, o ser humano não é um conjunto de reações automáticas nem uma máquina comandada pela razão. O organismo é uma totalidade viva, que se reorganiza de modo criativo diante das demandas internas e externas, preservando sua integridade e, simultaneamente, reinventando-se a cada encontro com o mundo.

A autorregulação não é um ato consciente de controle emocional, mas um movimento espontâneo e sábio do organismo-meio, que tende ao equilíbrio entre autopreservação e autoatualização. Trata-se de um fluxo dinâmico de ajustamentos criativos, no qual o ser se reconfigura frente às perturbações do campo, restabelecendo sua harmonia e abrindo caminho para a autorrealização.

Nas abordagens humanistas, o terapeuta não é um técnico que corrige falhas nem um especialista que elimina sintomas com rapidez. Ele se coloca como presença intencional, sustentando um campo relacional vivo, onde o sintoma é acolhido como figura significativa que emerge da relação organismo–meio. O foco não está em suprimir o que incomoda, mas em ampliar a awareness no aqui e agora, investigando o sentido e a função de cada ajuste criativo. Assim, o terapeuta favorece reorganizações mais ecológicas, tanto internas quanto de campo, que conduzem à integração e à responsabilidade do cliente.

Para isso, ele precisa suspender seus próprios desejos e expectativas — uma atitude de epoché clínica — e transformar essa suspensão em intervenções intencionais que iluminem o que está encoberto na experiência do cliente. Seu papel é apoiar o processo de autorregulação organísmica, sem impor soluções prontas, mantendo uma direção que é firme, mas não impositiva.

Na prática, essa perspectiva exige uma escuta radicalmente diferente. Em vez de traduzir a vivência do cliente em categorias diagnósticas ou modelos universais, o terapeuta volta-se para a singularidade do vivido. Uma terapia centrada na awareness se ancora no presente e promove o contato pleno com a experiência. Se alguém diz estar estressado, não se busca o “porquê” em causas distantes, mas o “como” — como o estresse se manifesta agora, no corpo, na respiração, nos gestos, nas relações.

A fenomenologia nos lembra que toda experiência é situada: não existe “o” estresse, mas esse estresse, vivido por essa pessoa, em determinado contexto. Compreender um fenômeno humano é sempre reconhecer o entrelaçamento entre o interno e o externo, entre sujeito e mundo. Ao investigar o modo como algo se dá, o cliente pode reconhecer dimensões antes invisíveis — medos, expectativas, desejos, contradições — e, assim, encontrar sentido em seu sofrimento, abrindo espaço para a transformação.

Esse olhar convida também à cautela com o diagnóstico. Embora útil em contextos específicos, ele jamais deve substituir a singularidade. Rotular alguém como “ansioso” ou “depressivo” é reduzir a complexidade viva da experiência a uma categoria abstrata. O gestalt-terapeuta, inspirado em Husserl, busca retornar “às coisas mesmas”: convida o cliente a descrever sua vivência em suas próprias palavras, tal como ela se apresenta, antes de qualquer explicação.

Uma psicoterapia orientada pela awareness requer, portanto, presença plena e abertura ao inesperado. A cada encontro, novas figuras emergem: a ansiedade diante do trabalho, a solidão nas relações, o medo de se permitir prazer. Nada surge por acaso. Cada gesto, silêncio ou emoção é uma expressão do modo como o cliente organiza seu campo naquele instante. E é nesse tecido vivo, entre o que se mostra e o que se oculta, que o terapeuta acompanha o cliente — não para consertá-lo, mas para ajudá-lo a tornar-se quem é, com inteireza.

Na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) de Carl Rogers, a terapia não se apoia em técnicas diretivas nem em interpretações que visam corrigir o cliente. Ela se realiza como um encontro dialógico autêntico, no qual o terapeuta oferece empatia, aceitação incondicional e congruência. Essas atitudes criam um ambiente de confiança que permite à tendência atualizante — a força vital de crescimento presente em todo ser humano — emergir e conduzir o cliente a maior coerência interna, maturidade e autonomia.

Rogers compreende essa tendência não como um impulso moral ou socialmente adaptativo, tampouco como um instinto inconsciente voltado à descarga de tensões reprimidas. Trata-se de uma energia organísmica de expansão e realização, que se expressa naturalmente quando o ambiente é suficientemente facilitador e não punitivo. O terapeuta, portanto, não diagnostica nem dirige o processo; ele oferece presença e escuta genuína, confiando na sabedoria autorreguladora do próprio cliente.

Na Gestalt-terapia, Fritz Perls também rejeita a ideia de uma psicoterapia voltada à explicação causal dos sintomas ou à eliminação dos conflitos inconscientes por meio de interpretações analíticas. Do mesmo modo, não busca corrigir racionalmente pensamentos ou controlar emoções em nome de um equilíbrio artificial. A meta tampouco é adaptar o indivíduo às normas sociais, mas restaurar sua capacidade de contato e awareness, devolvendo-lhe o poder de responder criativamente às situações que vive.

O ser humano é visto como um organismo em relação de campo com o ambiente, cuja autorregulação se dá no aqui e agora. O processo terapêutico, portanto, convida o cliente a integrar corpo, mente e emoção numa presença unificada, onde cada gesto, sensação e pensamento pode ser reconhecido como expressão legítima de seu modo de existir. A psicoterapia torna-se, assim, um caminho de integração e responsabilidade, em que o viver se torna novamente criativo — não por adaptação, mas por autenticidade.

A teoria de Abraham Maslow, célebre pela imagem da pirâmide das necessidades, propõe que a motivação humana se organiza em níveis progressivos, onde cada estágio prepara o caminho para o seguinte.

Na base, estão as necessidades fisiológicas — respirar, alimentar-se, dormir, reproduzir-se, eliminar resíduos —, fundamentos da sobrevivência. Em seguida vêm as necessidades de segurança, relacionadas à proteção do corpo, à estabilidade financeira, à moradia e à previsibilidade do ambiente. Quando essas condições estão razoavelmente atendidas, emergem as necessidades sociais, que envolvem vínculos de afeto, amizade e pertencimento. Logo acima aparecem as necessidades de estima, ligadas ao reconhecimento, à valorização e à autoestima. No topo da hierarquia, situa-se a autorrealização, compreendida como o impulso de viver de forma autêntica, desafiando-se, desenvolvendo o próprio potencial e aceitando-se integralmente — virtudes e imperfeições incluídas.

Cada necessidade insatisfeita funciona como força motivadora. À medida que uma é atendida, outra — de nível mais elevado — emerge, direcionando o comportamento humano. Isso explica por que, enquanto necessidades básicas estão ameaçadas, torna-se difícil engajar-se em buscas mais complexas. No entanto, Maslow não concebia essa hierarquia como rígida: ele reconhecia que, em certas circunstâncias, a ordem pode se inverter — por exemplo, quando alguém busca prestígio antes de amor, acreditando que o reconhecimento abrirá caminho para os vínculos afetivos.

No fundo, sua teoria reflete uma visão organísmica de crescimento: a motivação humana é expressão da tendência natural à autorregulação e à expansão criativa. As necessidades se organizam de modo flexível, acompanhando o movimento da vida, e orientam o indivíduo em direção à autorrealização, onde o viver se torna um ato contínuo de descoberta e criação.

Na Logoterapia de Viktor Frankl, o sentido da vida é o eixo central da existência humana. Quando esse sentido se perde ou se torna inacessível, o indivíduo experimenta o que Frankl chamou de “vazio existencial” — uma sensação de desorientação e desânimo que não decorre da falta de prazer ou de sucesso, mas da ausência de um propósito que justifique o viver. Assim, a busca por sentido não é um luxo espiritual, mas uma necessidade vital, essencial à saúde mental e à resiliência.

Inspirado por Nietzsche, Frankl afirmava: “Quem tem um porquê para viver, suporta quase qualquer como.” Essa máxima sintetiza a essência da noodinâmica, conceito que expressa a força criativa do espírito humano. Essa força nasce da tensão entre quem somos e quem podemos ser, entre o presente vivido e o futuro que aspiramos alcançar. Para Frankl, não é o equilíbrio, mas essa tensão existencial que impulsiona o crescimento. O ser humano não se realiza na estabilidade, e sim no movimento que o leva a confrontar o próprio potencial e a responder ao chamado do sentido.

A tensão existencial, portanto, não deve ser eliminada — ela é condição de vitalidade e realização. É no enfrentamento das contradições e nas lutas da vida que o indivíduo se transforma e amadurece. A felicidade, por sua vez, não é um objetivo direto: ela é consequência natural de uma existência orientada por significado.

Na Logoterapia, o ser humano é visto como livre e responsável para descobrir o sentido único de sua vida em cada situação — inclusive no sofrimento inevitável. A atitude diante do destino é o que define a dignidade humana. Mesmo quando não se pode mudar o que acontece, é sempre possível escolher como responder. Assim, o sofrimento, quando acolhido e direcionado por um propósito, deixa de ser apenas dor e se converte em caminho de transformação.