A epistemologia nasceu do impulso de desvendar os alicerces do próprio saber, desdobrando-se em múltiplas vertentes ao longo da história. Em seus primórdios, o conhecimento brotava do sagrado, envolto em narrativas folclóricas de origem incerta e em revelações mediadas por oráculos. Saber, então, significava estar em contato com uma ordem transcendental que nos atravessava — algo concedido, e não conquistado. Com o tempo, porém, a razão insurgiu-se contra esse reinado do mito, reivindicando para si o cetro do entendimento humano. A filosofia grega, sobretudo com Tales de Mileto (624–546 a.C.), foi decisiva nesse deslocamento: ao desafiar o pensamento mítico, Tales inaugurou a possibilidade de compreender o universo por meio de teorias abertas à argumentação, ao confronto de ideias e ao refinamento contínuo, permitindo a formulação de leis que articulavam, com precisão lógica, relações de causa e efeito (Marcondes, 2010).

Em seguida, os sofistas propuseram uma concepção relativista e antropocêntrica do conhecimento. Para eles, a realidade seria uma construção humana, desprovida de princípios universais fixos; haveria apenas verdades e valores circunstanciais, moldados pelo tempo, pela cultura e pelas necessidades do observador. Essa perspectiva entendia o saber como algo definido consensualmente, fruto do acordo entre os indivíduos e dependente de seus interesses e contextos. Contra essa fluidez de critérios, ergue-se Sócrates, que não negava o valor da experiência subjetiva, mas exigia que qualquer argumento passasse por um exame crítico rigoroso. Seu método — o diálogo socrático — tinha por objetivo desnudar os limites do conhecimento imediato e intuitivo, levando o interlocutor a refletir, desconstruir certezas e reconstruir compreensões mais sólidas por meio da razão (Holanda, 2014).

Platão (428–348 a.C.), discípulo de Sócrates, deu continuidade a essa trilha, indo além da crítica ao senso comum: sua ambição era erguer uma teoria do conhecimento que se alicerçasse em fundamentos universais, capazes de sustentar não apenas o saber teórico, mas também a ação humana nas esferas ética e política. Para isso, buscou ultrapassar entendimentos incorretos, contraditórios e superficiais, defendendo que o verdadeiro conhecimento provém de princípios inatos, acessíveis à razão por meio da reminiscência — uma recordação da alma sobre realidades previamente conhecidas. Assim, delineou uma ontologia dualista, na qual distinguia o mundo sensível, captado pelos sentidos e marcado pela instabilidade, do mundo das ideias — uma dimensão suprassensível, eterna e imutável, acessível apenas pela investigação metafísica. Aristóteles (384–322 a.C.), seu discípulo, rompeu com essa cisão ao propor uma visão integrada da realidade: para ele, corpo e alma são inseparáveis, e a essência das coisas não reside num plano transcendente, mas no próprio mundo sensível. Propôs, então, uma estrutura ontológica composta por matéria e forma — sendo a matéria o substrato físico (como a madeira), e a forma, aquilo que confere identidade e finalidade ao objeto (como a ideia de “cadeira” ou “árvore”). Através da abstração intelectual, Aristóteles procurava compreender como matéria e forma se articulam, unindo a ideia de transformação (mobilismo) à permanência (monismo), conciliando movimento e essência numa realidade em constante atualização (Marcondes, 2010).

Na Idade Média, a epistemologia foi incorporada ao pensamento teológico, sendo amplamente utilizada como instrumento para sustentar a fé e justificar racionalmente a existência de Deus. Nesse contexto, filósofos como São Tomás de Aquino (1225-1274) se dedicaram a harmonizar razão e fé, subordinando o conhecimento humano à verdade divina, que era considerada superior e absoluta. Esse período consolidou uma visão em que o conhecimento era parte de um propósito maior ligado à fé, limitando o foco em debates puramente epistemológicos. Por sua vez, na Idade Moderna buscou novos fundamentos para o conhecimento e pela ênfase na autonomia da consciência individual. Esse período foi impulsionado por figuras como René Descartes (1596–1650) e Francis Bacon (1561–1626), que desafiaram as autoridades externas e ortodoxas, rompendo com os paradigmas do passado, frequentemente associados a preconceitos e incoerências. Nesse contexto, emergiram duas grandes correntes epistemológicas: o racionalismo e o empirismo. Descartes, principal expoente do racionalismo, buscou uma base inabalável para o conhecimento, imune ao ceticismo. Sua célebre formulação, “cogito, ergo sum” (traduzido como “penso, logo existo”), estabeleceu o “eu pensante” como o alicerce confiável do conhecimento. Para Descartes, a razão era uma qualidade inerente à natureza humana, capaz de desvendar verdades universais. Contudo, essa perspectiva resultou em uma visão dualista e, inicialmente, solipsista (Ibid.). O dualismo cartesiano separava mente e corpo em substâncias distintas: a mente como uma entidade pensante, e o corpo, desprovido de espírito, como uma máquina (Bock; Furtado; Teixeira, 1999). Por outro lado, o solipsismo de Descartes, que isolava sujeito e objeto (ou seja, a experiência “interna” do indivíduo da realidade “externa”), gerou uma tensão epistemológica. Para superá-la, Descartes introduziu a ideia de Deus como ponte entre o pensamento subjetivo e o mundo objetivo. Ele argumentou que, sendo imperfeitos, só poderíamos conceber a ideia de um Deus perfeito porque esse ser nos teria deixado ideias inatas, marcadas em nossa mente como reflexos de sua perfeição. Assim, Deus passou a ser o garantidor da correspondência entre as ideias inatas e a realidade externa, viabilizando a construção do conhecimento sobre o mundo. O sujeito cognoscente, assim, foi alçado à posição de um observador isento e abstrato — alguém que contempla o mundo de fora, como se dele não fizesse parte. Consolidou-se, então, um paradigma epistêmico fundado na cisão radical entre sujeito e objeto, corpo e mente, razão e emoção. Um saber que se proclamava neutro, universal e absoluto — e que, por isso mesmo, excluía tudo aquilo que não cabia em sua régua de exatidão. A ciência, seduzida por esse ideal, passou a reproduzir esse modelo, consolidando uma hegemonia que reduzia o conhecer ao que podia ser medido, explicado, controlado. Por sua vez, Bacon, um dos principais expoentes do empirismo, propôs uma abordagem radicalmente diferente. Ele rejeitou a ideia de que possuímos ideias inatas e argumentou que a experiência sensível é a base de todo o conhecimento, em conformidade com a máxima aristotélica: “Nada está no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos”. Bacon defendia a ruptura com o passado em favor do avanço científico, mas diferentemente do método dedutivo do racionalismo de Descartes, que partia de premissas universais baseadas em ideias inatas para chegar a conclusões particulares, Bacon advogava por um método indutivo. Este método começava com observações baseadas na experiência e, ao identificar padrões consistentes nos fenômenos, avançava para a formulação de leis científicas abrangentes. Nesse período também emergiu o Positivismo através de Auguste Comte (1798-1857), doutrina filosofia que surgiu do entusiasmo com o progresso social e científico, exaltando a ciência e a razão como bases para a compreensão e organização da realidade. Apresentou-se como uma “religião da humanidade”, defendendo a fé na ciência em detrimento dos conceitos teológicos, metafísicos e do senso comum (Marcondes, 2010). Sustentava que apenas o método científico experimental era capaz de produzir conhecimento legítimo, aplicável tanto às ciências naturais – como Física, Química e Biologia – quanto às ciências humanas, como Sociologia e Psicologia (Marcondes, 2010; Cardoso, 2018). Essa postura radical implicava que os fatos empíricos, submetidos a procedimentos rigorosos de pesquisa experimental e análise estruturada, deveriam constituir a única base legítima do conhecimento (Bock; Furtado; Teixeira, 1999; Cardoso, 2018). Assim, o conhecimento passou a ser produzido de maneira criteriosa, sistemática e controlada, qualidades que também garantiam sua transmissão, verificação e aplicação prática (Marcondes, 2010). Tal abordagem consolidou o método experimental como um marco de confiabilidade e utilidade, moldando a ciência moderna e influenciando amplamente as estruturas sociais, culturais e econômicas.

Sob a influência do positivismo, a Psicologia inicialmente se emancipou da Filosofia, consolidando-se como uma ciência autônoma. Abandonou a especulação metafísica para adotar a pesquisa experimental como método central de investigação (Belmino, 2018). Com isso, delimitou seu objeto de estudo ao comportamento, à vida psíquica e à consciência, estruturando-se em bases metodológicas que privilegiam a observação, a mensuração e a replicabilidade (Bock; Furtado; Teixeira, 1999). Inicialmente, a Psicologia se configurou como uma ciência essencialmente acadêmica e laboratorial, voltada para a compreensão e a previsão do comportamento humano, bem como para o funcionamento dos processos mentais (Belmino, 2021). Esse movimento foi impulsionado por Wilhelm Wundt (1832-1920), considerado o “pai da Psicologia”. Em 1879, Wundt fundou o primeiro laboratório de Psicologia em Leipzig, Alemanha. Ali, conduziu investigações extensivas sobre a consciência e a introspecção, buscando quantificar as reações humanas em ambientes controlados e padronizados. Adotando uma abordagem rigorosamente científica, Wundt propunha a análise fragmentada da mente, tratando-a de maneira semelhante à que um anatomista disseca o corpo – isolando elementos básicos para compreender seu funcionamento como um todo (Bock; Furtado; Teixeira, 1999). É crucial destacar que, enquanto Wilhelm Wundt defendia uma Psicologia de orientação positivista, Franz Brentano (1838-1917) introduzia uma abordagem profundamente inovadora para a construção da Psicologia. Fundamentado no conceito de intencionalidade, Brentano argumentava que o foco do estudo psicológico não deveria recair sobre os objetos “em-si”, mas sobre os processos pelos quais a consciência dá forma aos atos mentais que se dirigem a esses objetos. Em outras palavras, ele enfatizou que a consciência é sempre “intencional”, ou seja, está intrinsecamente voltada para algo – uma característica que evidencia a relação dinâmica e indissociável entre sujeito e objeto (Holanda, 2014; Belmino, 2018).

Foi nesse cenário intelectual fortemente influenciado pelo positivismo que, no início do século XX, Edmund Husserl, filósofo e matemático, introduziu uma crítica revolucionária que inaugurou uma nova maneira de abordar os fenômenos (Holanda, 2014, p. 39). Husserl desenvolveu um método de investigação que fornece uma base sólida e rigorosa para o conhecimento, o que o posiciona como um herdeiro direto de Descartes no que diz respeito à preocupação epistemológica. No entanto, diferentemente de Descartes, que separava rigidamente sujeito e objeto, Husserl rejeitou essa dualidade, enfatizando a interdependência entre a consciência e a realidade. Esse deslocamento epistemológico marcou uma ruptura significativa com o pensamento cartesiano, delineando um caminho inovador e profundamente transformador no campo da Filosofia (Ibid.). A Fenomenologia propõe uma virada: não há conhecimento fora da história, fora da cultura, fora da carne. Por isso, ela propõe uma epistemologia que não busca capturar a essência fixa dos objetos, mas se abre ao fenômeno como ele se revela na experiência. Não mais uma verdade absoluta a ser descoberta, mas sentidos que se constroem na relação viva entre quem percebe e aquilo que é percebido. A Fenomenologia inaugura, assim, um novo modo de conhecer: um saber que se faz no corpo, na linguagem, na cultura, no tempo — ou seja, na vivência encarnada do sujeito. E é nesse gesto de retorno à presença que o conhecimento deixa de ser um monumento à razão e se torna travessia da experiência vivida.

Husserl foi profundamente influenciado pelo pensamento de Brentano (Belmino, 2021; Holanda, 2014), o qual, por sua vez, compartilhou com Husserl uma dívida intelectual com Wilhelm Dilthey (1833-1911), filósofo alemão que sustentava que os fenômenos psíquicos não deveriam ser apenas explicados, mas compreendidos. Para Dilthey, essa compreensão exigia uma análise das vivências concretas dos indivíduos em seus contextos sociais, históricos e culturais, reconhecendo-as como repletas de significados e valores únicos. Em consonância com essa perspectiva, Dilthey argumentou que as ciências do espírito demandam métodos de investigação distintos do positivismo aplicado às ciências naturais (Holanda, 2014; Belmino, 2021). Husserl, inspirado por Brentano e Dilthey, rejeitou as abordagens reducionistas que baseavam a Psicologia apenas em pesquisas experimentais sobre estímulos e respostas, ou em teorias genéricas e especulativas. Ele argumentou que esses métodos não eram suficientes para abarcar a complexidade dos fenômenos psíquicos, os quais demandavam um estudo metodologicamente distinto do estudo dos fenômenos físicos. Assim, a proposta husserliana ofereceu uma alternativa aos métodos de pesquisa que lhe precederam (Holanda, 2014; Cardoso, 2018).

Brentano foi um estudioso que resgatou, da Filosofia aristotélica e medieval, o conceito de intencionalidade (do latim “intentio”), propondo que a consciência não é uma entidade fechada em si mesma – como defendia Descartes em sua teoria do “eu pensante”, que tratava a consciência como uma entidade separada do mundo. Ao invés disto, Brentano declarou que a consciência é sempre direcionada para um objeto. Em outras palavras, ela só se apresenta como consciência de (ou sobre) “alguma coisa”. Dessa forma, afirmou que a intencionalidade é uma característica essencial dos atos mentais, pois todo ato de consciência atribui sentido e significado às coisas (Holanda, 2014). Nas palavras de Belmino (2018), “com base na noção de intencionalidade, é possível entender que a consciência só pode ser compreendida a partir de sua correlação intrínseca com o mundo” (p. 111). Inspirado por Brentano, Husserl também considerava a intencionalidade o cerne da consciência, utilizando essa perspectiva para criticar as abordagens naturalistas e dogmáticas dos cientistas de sua época. Esses pesquisadores, segundo Husserl, tratavam os fenômenos como “absolutos”, ignorando fatores subjetivos e as próprias preconcepções que, inevitavelmente, influenciam os métodos e os resultados de suas investigações (Rehfeld, 2013; Holanda, 2014). Para Husserl, os objetos não existem como entidades isoladas; eles se revelam por meio da intencionalidade da consciência do observador. Dessa forma, qualquer tentativa de dissociar analiticamente objeto e observador ou de dividir o mundo em esferas “interna” e “externa” seria metodologicamente equivocada. Essa separação artificial desconsidera a influência intrínseca do pensamento do observador sobre o objeto em estudo, comprometendo a validade dos resultados (Rehfeld, 2013; Belmino, 2021; Marton, Júnior e Costa, 2021). Assim, em oposição ao paradigma dominante de sua época, Husserl reafirmou a inseparabilidade entre observador e objeto. Ele argumentou que ambos só podem ser compreendidos plenamente em sua relação mútua, numa dinâmica contínua de interdependência. Essa perspectiva desafia diretamente a atitude naturalista, evidenciando a necessidade de reconsiderar os pressupostos metodológicos que ignoram essa mutualidade fundamental (Rehfeld, 2013; Cardoso, 2018; Belmino, 2021). Portanto, a Fenomenologia nos ensina que aquilo que emerge em nossa consciência não são os objetos em si, dissociados de nós, tampouco meras representações de conceitos universais, mas sim experiências vivas, moldadas pela relação entre quem percebe e o que é percebido.

Husserl identificou a atitude natural como a maneira automática e não reflexiva com que lidamos com o mundo, aceitando os significados atribuídos às coisas como se fossem evidentes e universais. Essa postura considera os fenômenos como dados objetivos, sem questionar como a consciência os apreende. Na atitude natural, operamos dentro de um campo de significados e convicções pré-estabelecidos, tratados de maneira apodítica – ou seja, como verdades absolutas (Cerbone, 2014). Por exemplo, ao nos referirmos a definições “universais” sobre objetos ou experiências, tratamos como se estes fossem da mesma forma para todas as pessoas e em todos os momentos, desconsideramos que os fenômenos são apreendidos pela consciência de maneira situada, moldada por contextos específicos e pela vivência subjetiva (Cardoso, 2018). Portanto, ao olhar para uma árvore, alguém na atitude natural a define apenas como “uma planta com tronco e folhas”. Para Husserl, essa concepção genérica ignora que a percepção da árvore é influenciada pelo contexto e pela experiência: para um botânico, ela pode ser vista como um espécime científico; para um carpinteiro, como uma fonte de madeira; e para alguém descansando sob sua sombra, como um refúgio. Com isso, Husserl deslocou destacou que os fenômenos emergem no encontro entre a consciência e o que é percebido (Rehfeld, 2013; Cardoso, 2018; Belmino, 2021). Como descreve Ribeiro (1985), podemos “definir etimologicamente fenômeno como aquilo que aparece, como aquilo que é aparente na coisa ou a aparência da coisa” (p. 43). Complementando essa definição, Holanda (2014) esclarece que: “Phainómenon aparece no grego como particípio (correspondendo ao nosso gerúndio) do verbo phainestai, e deve, portanto, ser lido como vindo à luz, mostrando-se, evidenciando-se. Assim, fenômeno é ação, é movimento; está ‘vindo-a-ser’, ‘sendo’” (p. 31 – grifo do autor). Nesse contexto, fenômeno não é algo estático ou puramente objetivo. Portanto, a Fenomenologia, enquanto disciplina dedicada ao estudo dos fenômenos, concentra-se naquilo que aparece para uma consciência, ou seja, no que se revela ao observador como um objeto experiencial e temporal – o “objeto-sendo-percebido” (Rehfeld, 2013). Isso rompe com visões essencialistas, sublinhando a importância do processo de interação no ato de conhecer. Desse modo, destaca que a subjetividade não pode ser ignorada, pois é através dela que o mundo é apreendido, compreendido e transformado (Sá, 2006; Holanda, 2014). Husserl postulou que a consciência é ativa e dinâmica, conferindo significados singulares ao mundo vivido corporalmente e experiencialmente (Ribeiro, 1985; Ribeiro, 1999; Sá, 2006; Ribeiro, 2011; Holanda, 2014). Esse caráter intencional da consciência explica como os fenômenos são vivenciados e interpretados pelo sujeito em situações específicas, incluindo os significados pessoais atribuídos a eles. Essa descrição evidencia a relação pessoal e contextual em que o objeto se insere, revelando a experiência vivida pelo observador-narrador. Assim, a intencionalidade expõe o sentido particular e subjetivo que cada pessoa atribui aos fenômenos, influenciado por suas vivências e contextos. Desse modo, a Fenomenologia rompe com visões essencialistas e sublinha que a percepção nunca é um espelho neutro da realidade, mas um processo ativo de construção de sentido, que confere significados singulares ao mundo vivido experiencialmente (Ribeiro, 1985; Ribeiro, 1999; Sá, 2006; Ribeiro, 2011; Holanda, 2014).

Husserl, ao adotar essa nova perspectiva, rompeu com o psicologismo predominante na Psicologia de sua época (Belmino, 2021). O psicologismo, enquanto perspectiva filosófica, busca reduzir os fenômenos lógicos e epistemológicos à psicologia, explicando-os exclusivamente com base em processos intrapsíquicos. Essa abordagem desconsiderava fatores contextuais, biológicos, sociais e culturais, adotando um viés reducionista. Com isso, o comportamento humano era frequentemente interpretado como uma expressão direta e linear de estados mentais internos, sem considerar a relação dinâmica entre mente, corpo e mundo (Holanda, 2014; Belmino, 2021; Marton; Júnior; Costa, 2021). Ao afastar-se do psicologismo, Husserl inaugurou uma abordagem mais abrangente e integrada da experiência humana, estabelecendo a Fenomenologia como uma ciência do vivido, em oposição ao reducionismo das abordagens naturalistas. Ao enfatizar a relação consciência-mundo, ele propôs uma visão na qual o ser humano é compreendido em sua totalidade e os fenômenos compreendidos como processos dinâmicos, vivos e em contínua transformação (Holanda, 2014).