Estudar a Psicologia Fenomenológica e Existencialista é mergulhar em uma tradição que se distancia das explicações mecanicistas e reducionistas e se volta para a experiência concreta do ser humano. Nessa perspectiva, a vida não é algo fixo e determinado, mas um processo em constante construção. Heidegger nos lembra de que o ser humano está sempre lançado no mundo, vivendo em permanente possibilidade de se reinventar. Esse mesmo movimento aparece em Heráclito, para quem tudo flui, e nunca somos exatamente os mesmos a cada instante. Essa abertura para o vir-a-ser ajuda a compreender a centralidade da mudança e da impermanência dentro da abordagem existencial.
Um tema essencial nesse campo é a distinção entre autenticidade e inautenticidade. Viver de modo autêntico significa assumir a própria existência, escolher a partir de si mesmo e responsabilizar-se por suas decisões. Já a inautenticidade ocorre quando nos deixamos conduzir apenas por pressões externas e pelo impessoal, deixando de lado o que nasce verdadeiramente de nós. Sartre aprofunda esse ponto ao falar da má-fé, quando o sujeito nega sua liberdade refugiando-se em justificativas ou autoenganos para evitar o peso de decidir. Reconhecer esse mecanismo é fundamental na clínica, pois o trabalho terapêutico busca devolver ao indivíduo a consciência de sua liberdade e responsabilidade.
Na Gestalt-terapia, conceitos como figura e fundo, awareness e excitamento ocupam um lugar central. A awareness é o contato vivo e consciente com a experiência, enquanto o ciclo do contato descreve o movimento natural das necessidades: emergem como figura, são vivenciadas e, uma vez satisfeitas, retornam ao fundo. O excitamento é a energia vital que sustenta esse processo, mas, quando bloqueado ou distorcido, origina sintomas e interrupções no fluxo saudável da vida. É justamente nesse ponto que a Gestalt-terapia entende os sintomas não como inimigos a serem eliminados, mas como sinais de contatos interrompidos que pedem reconhecimento e integração.
Dentro desse horizonte, a noção de indiferença criativa, formulada por Salomon Friedlaender e retomada por Perls, é decisiva. Ela mostra que diante de polaridades — como prazer e dever, agradar e desagradar, rigidez e espontaneidade — não se trata de escolher um polo e rejeitar o outro, mas de sustentar um ponto de equilíbrio, o “ponto zero”, que integra opostos e abre espaço para soluções criativas. Essa postura evita a rigidez e favorece ajustamentos mais integrais.
Outro eixo fundamental é a angústia existencial. Para Heidegger e Sartre, ela não é uma doença, mas uma condição inevitável que surge quando percebemos nossa liberdade radical e nossa finitude. Kierkegaard já a havia descrito como a “tontura da liberdade”: o chamado que se apresenta quando vemos que temos infinitas possibilidades e nenhuma garantia. Heidegger acrescenta a dimensão do ser-para-a-morte, lembrando que a consciência da finitude pode nos convocar a uma vida mais autêntica. Sartre, por sua vez, afirma que a existência precede a essência, ou seja, não há uma identidade pronta ou um destino fixado; somos construtores de nós mesmos a cada ato. Essa liberdade, porém, traz consigo a responsabilidade, já que não podemos terceirizar nossas escolhas.
Nietzsche reforça essa reflexão ao criticar o niilismo que surge quando o sujeito vive apenas no dever, sem espaço para prazer e criação, negando sua potência vital. Sua defesa do espírito dionisíaco — marcado pelo corpo, pelo impulso e pela celebração da vida — inspira a clínica gestáltica, que valoriza a espontaneidade, a presença e a afirmação da existência em sua intensidade e imperfeição.
Na prática clínica, esses princípios se traduzem em experimentos no aqui-agora. O terapeuta não aplica receitas ou interpretações fechadas, mas convida o cliente a vivenciar sua experiência diretamente. Sustentar o silêncio, observar a respiração, dramatizar polaridades em cadeiras, repetir frases para escutar a própria voz ou trazer uma música para explorar sensações são formas de ampliar a awareness e favorecer descobertas genuínas.
Outro conceito decisivo é o do vazio fértil. Ao contrário do vazio estéril, que paralisa, o vazio fértil é o intervalo vivo entre o que já não serve e o que ainda não nasceu. Nele, a ansiedade não é tratada como inimiga, mas como sinal de que algo novo está em gestação. Se o vazio é apressadamente preenchido, caímos em repetições; mas, se é sustentado com presença e paciência, abre-se espaço para ajustamento criativo. É nesse espírito que se compreende o princípio paradoxal da mudança: só se transforma quem consegue ser o que é, no aqui-agora. Forçar-se a ser algo idealizado apenas reforça a cisão. A dor, o choro e a crise, nesse sentido, não são obstáculos, mas expressões de energia que, se integradas, podem impulsionar crescimento.
Por fim, destaca-se a postura ética do terapeuta humanista-existencial. Em vez de buscar salvar da dor, o terapeuta acompanha o cliente em sua própria descoberta, sustentando o paradoxo entre apoio e frustração, abrindo espaço para a responsabilidade pessoal. Perguntas abertas, silêncio habitado, experimentos vivos e presença autêntica são os principais instrumentos. O objetivo não é oferecer soluções rápidas, mas ampliar a capacidade de contato, autorregulação e autenticidade.
Assim, para responder adequadamente aos desafios da prova e, mais profundamente, para compreender a Psicologia Fenomenológica e Existencialista, é preciso articular: a crítica nietzschiana ao niilismo e a valorização do dionisíaco, a angústia como condição da liberdade em Kierkegaard, Heidegger e Sartre, os conceitos gestálticos de figura-fundo, awareness, excitamento, vazio fértil e indiferença criativa, a noção de agressividade como função vital, e a postura clínica humanista-existencial que sustenta a dor sem anestesiá-la. Esses pilares não apenas fundamentam a teoria, mas também dão corpo a uma prática que aposta no encontro vivo como espaço de transformação autêntica.