Outro pensador importante para o movimento foi o médico psiquiatra e neurologista Viktor Frankl, fundador da Logoterapia (o termo grego “logos” significa “sentido”) (Aquino; Penna, 2016) – também conhecida como “análise existencial” (Holanda, 2014). Frankl não participou do surgimento da Psicologia Humanista; na verdade, a sua abordagem surgiu paralelamente a esta. Contudo, dada as aproximações de seus pensamentos, estabeleceu-se um esforço contínuo entre Frankl e os membros do movimento para aparar as suas arestas teóricas e afinar as suas perspectivas. Assim, no final de sua vida, Frankl não apenas participava ativamente do conselho editorial do Journal of Humanistic Psychology (JHP), mas também era reconhecido como uma das figuras proeminentes do movimento (Castañon, 2007).

A Logoterapia é uma abordagem psicológica “de cunho fenomenológico, existencial, humanista e teísta” (Moreira; Holanda, 2010, p. 345) profundamente influenciada pelas vivências de Frankl em três campos de concentração nazistas (incluindo Auschwitz) durante a Segunda Guerra Mundial, nos quais testemunhou horrores – a incluir a perda de sua família (Aquino; Penna, 2016).

Durante seu tempo nos campos de concentração, Frankl fez uma observação crucial que se tornaria a pedra angular de sua abordagem psicoterapêutica. Ele notou que, mesmo em meio as condições mais adversas, os prisioneiros que conseguiam encontrar um sentido para sua existência demonstravam uma capacidade maior de suportar o sofrimento. Observou que, quem tem um porque, suporta quase qualquer como. A partir dessa percepção, Frankl desenvolveu a ideia de que o sentido da vida é o núcleo da experiência humana (Belmino, 2021). Segundo ele, é a ausência ou a perda desse sentido que desencadeia um sofrimento que ele denominou como “vazio existencial” (Holanda, 2014). Portanto, a busca por um propósito significativo não apenas ajuda a navegar pelas adversidades, mas é fundamental para a saúde mental e a resiliência emocional (Belmino, 2021). Assim, no seu livro Em Busca de Sentido: Um Psicólogo no Campo de Concentração, Frankl popularizou a frase de Nietzche “Quem tem um porquê para viver, consegue suportar quase qualquer como”.

A Logoterapia, também conhecida como “Psicoterapia do Sentido da Vida”, destaca-se por uma perspectiva que vai além da mera satisfação de instintos ou necessidades. Assim, Frankl argumentava que as pessoas não devem ser vistas apenas como seres em busca da gratificação de desejos imediatos ou do alívio de tensões, mas como seres em constante busca de significado, isto é, de responsabilidade perante um sentido existencial. Portanto, a busca por um propósito existencial é o coração da Logoterapia. Para Frankl, mais do que a busca pelo prazer (como Freud propôs) ou pelo poder (como Adler sugeriu), o que realmente motiva as pessoas é a necessidade de dar significado à própria existência. Quando alguém perde o sentido, é como se perdesse a bússola interna, caindo no mencionado vazio existencial – uma das fontes mais profundas de sofrimento (Ibid). A Logoterapia nos chama a olhar para a frente e perguntar: “Para que estou vivendo?”. E não pense que sentido é algo grandioso ou reservado a poucos, pode ser algo simples, como cuidar de um ente querido ou realizar um trabalho significativo.

Para Frankl, o ser humano revela sua verdadeira natureza quando se dedica a uma causa ou ao amor por outra pessoa, transcendendo assim a si mesmo. Segundo ele, assim como um bumerangue que só retorna ao lançador se não atingir seu alvo, a busca insistente por prazer, felicidade ou sucesso é um sinal de que estas necessidades não estão sendo efetivamente atendidas – sendo reflexo justamente de um vazio existencial. Então, em contraponto, propôs que a verdadeira felicidade somente surge como um efeito secundário da realização de um propósito de vida – isto é, através do envolvimento em atividades significativas que transcendem o interesse individual (Moreira; Holanda, 2010). Para Frankl, “o homem só se torna homem e só é completamente ele mesmo quando fica absorvido pela dedicação a uma tarefa, quando se esquece de si mesmo a serviço de uma causa, ou no amor a uma pessoa” (Ibid., p. 346).

Frankl defendia que o ser humano tem a liberdade de escolher suas atitudes – independentemente das circunstâncias externas (mesmo que extremas). Pois mesmo que não possa controlar tudo o que lhe acontece, pode decidir como responder – mesmo em meio a dor e o sofrimento. Assim, sua Logoterapia enfatiza a responsabilidade pessoal e a busca por significado em meio aos desafios da vida.

A “noodinâmica”, segundo Frankl, representa a força dinâmica do espírito humano, que surge da tensão entre quem somos no presente e o que aspiramos ser no futuro. Para ele, o sentido da vida é encontrado na busca ativa por metas e significados ainda não alcançados, e o crescimento pessoal decorre dessa tensão, não do equilíbrio. Frankl rejeita a ideia de que o ser humano busca estabilidade, afirmando que a realização acontece na luta constante com o próprio potencial. Portanto, para ele, a “tensão existencial” não é algo a ser evitada, mas uma condição essencial para a realização plena, impulsionando-no em direção a novos propósitos (Moreira; Holanda, 2010).

Por fim, mencionemos Friederich Salomon Perls – mais conhecido como “Fritz” e um dos principais fundadores da Gestalt-terapia (GT) (Lacerda, 2016). Fritz é citado como “uma das presenças mais marcantes no extraordinário sucesso e desenvolvimento da Psicologia Humanista nas décadas de 60 e 70” (Júnior, 1996, p. 10), enquanto a Gestalt-terapia é citada como uma das vertentes mais vigorosas deste movimento (Moreira, 2010). Contudo, para entendermos devidamente a relação entre a Gestalt-terapia e a Psicologia Humanista, precisamos considerar três informações: (1) que a Gestalt-terapia surgiu na vanguarda da Psicologia Humanista, já antecipando muitas de suas críticas e pautas (Júnior, 1996; Mendonça, 2013); (2) que o grupo de fundadores da Gestalt-terapia nunca desenvolveu um trabalho diretamente ligado a Maslow e Rogers, constituindo-se de forma paralela (Moreira, 2010) e com forte influência do movimento fenomenológico-existencial europeu (Belmino, 2021), mas posteriormente declarando a sua afinidade e inclusão ao grupo humanista (Ribeiro, 1985; Holanda, 2014; Pinto, 2016); (3) que durante anos Fritz ofereceu seminários no Instituto Esalen (Perls, 1979), um dos principais centros de desenvolvimento e difusão da Psicologia Humanista (Júnior, 1996), aonde ele viveu como um destaque, deixando significativa marca sobre este movimento (Helou, 2015).

A Gestalt-terapia passou a ser bastante reconhecida nos EUA, principalmente devido à proximidade entre as ideias da abordagem e os movimentos de contracultura da época. […] Esse destaque possibilitou o interesse dos teóricos da psicologia humanista. Essa aproximação fez com que Fritz afirmasse em vários contextos diferentes que a Gestalt-terapia era uma abordagem humanista-existencial (Belmino, 2021, p. 109).

Fritz valorizava o contato com o óbvio inerente a experiência aqui-agora, convidando as pessoas a se desprenderem de suas “mentes pensantes” (por estarem cheias de preconcepções e fantasias enviesadas) em prol de um contato mais real e genuíno com o mundo e com as outras pessoas a partir dos seus sentidos – uma vez que o contato com os fenômenos da experiência imediata possibilita a ressignificação, a superação de situações mal resolvidas e o crescimento pessoal (Perls, 2012).

A Gestalt-terapia se construiu a partir da ousadia de integrar o que parecia incompatível. Seu nascimento não se deu no conforto de um terreno consensual, mas no atrito entre ideias divergentes e, muitas vezes, contraditórias. É nesse embate criativo que ela encontra sua força: não pretende dissolver as tensões entre diferentes correntes filosóficas e científicas, mas mantê-las em diálogo vivo, num campo onde o contraste gera movimento e fertilidade. O gesto fundador da abordagem foi justamente o de costurar aportes diversos — da psicanálise à fenomenologia, da Gestalt-psicologia ao existencialismo, da teoria de campo à terapia corporal — sem submetê-los a um eixo unificador rígido, mas permitindo que suas fricções mantivessem o pensamento em constante transformação. A Gestalt-terapia, nesse sentido, é menos um sistema acabado e mais um organismo vivo, autorregulando-se no contato com o mundo, aberta a revisões e atualizações.

Ao longo de sua história, a Gestalt-terapia foi também atravessada por críticas e revisões. Muitos acusaram-na de ecletismo, de falta de rigor, de excessiva dependência da subjetividade. Mas talvez seja precisamente essa recusa em fixar-se que lhe confere atualidade. Em tempos de certezas frágeis e rápidas mudanças sociais, sustentar a complexidade, valorizar a experiência e cultivar o diálogo tornam-se atitudes revolucionárias. A clínica gestáltica ensina que não precisamos escolher entre razão e emoção, entre corpo e mente, entre liberdade e responsabilidade: podemos habitar a tensão desses pares sem precisar dissolvê-los, permitindo que deles surja algo novo. Como na arte, a beleza não está na ausência de contraste, mas na harmonia que se produz quando as diferenças se encontram.

Assim, a Gestalt-terapia é mais do que um método psicoterapêutico: é uma forma de pensar e viver, um convite a integrar o que foi separado, a dar lugar ao que foi silenciado e a confiar na potência criadora do encontro. Ela nos lembra de que o sentido não está pronto, mas se constrói no ato de viver; que a integração não é um estado final, mas um movimento constante; e que, no fundo, ser humano é isso: um processo inacabado de integração, feito de fragmentos que, ao se encontrarem, revelam a beleza da totalidade.

O ser humano é compreendido, na Gestalt-terapia, como organismo em constante movimento, buscando manter o equilíbrio que se altera a cada instante e se recompõe por meio da satisfação ou eliminação de suas necessidades, como afirma Perls (1947/2002). Trata-se de um ser integrado, indivisível, que não pode ser reduzido a uma soma de partes, mas concebido como um fenômeno bio-psíquico-sócio-espiritual em permanente relação de campo organismo-meio (ABG, 2019).

Ao focarmos um indivíduo, percebemos múltiplas dimensões que configuram sua experiência. Existem os eventos de ordem filogenética, transmitidos geneticamente, como características herdadas ou predisposições a doenças; os eventos socioculturais, como religião, classe social, cultura e língua; os eventos interpsíquicos, que envolvem as relações com familiares, amigos, parceiros e até com o terapeuta; e, por fim, os eventos intrapsíquicos, relativos à sua autoimagem e percepção de sua condição orgânica e de saúde (Rodrigues, 2011). Cada uma dessas camadas se entrelaça, formando um todo complexo.

Assim, a Gestalt-terapia se apresenta como uma teoria da pessoa que considera o indivíduo em sua totalidade, como campo organismo-meio, em permanente processo de busca por sua melhor configuração (Ribeiro, 2011).

A psicoterapia gestáltica, nesse horizonte, busca restituir a presença da pessoa ao aqui-e-agora. O objetivo não é eliminar lembranças ou projetos, mas resgatar sua integração no fluxo do presente, de modo que o passado seja assimilado e o futuro planejado sem romper o contato com a realidade. O neurótico chega à clínica muitas vezes sem clareza do que quer; aquilo que apresenta como necessidade pode ser apenas uma forma de amortizar seus conflitos. Ainda assim, essa é a maneira que encontrou de lidar com sua dor, e por isso também deve ser acolhida como necessidade legítima. O trabalho terapêutico consiste em ajudá-lo a diferenciar o essencial do contingente, a reconhecer e completar gestalten inacabadas e a retomar sua capacidade de viver criativamente no agora.